Há movimentos na política que não precisam ser barulhentos para carregar intenções ruidosas. O senador Izalci Lucas (PL-DF), figura tradicional do cenário brasiliense, parece ter optado por um novo roteiro. A proposta de abrir uma CPI para investigar a compra do Banco Master pelo BRB, embora envolta em um verniz institucional, soa mais como uma cena ensaiada.
A transação entre BRB e Banco Master legítima, supervisionada por órgãos reguladores e ainda em curso — não apresenta indícios que justifiquem tamanho alarde. E também está longe de ser um escândalo, tampouco um caso de urgência parlamentar.
Izalci, no entanto, decidiu lançar luz sobre o episódio com a intensidade de quem tenta iluminar mais a si mesmo do que os fatos.
O movimento revela mais sobre o senador do que sobre o BRB. Izalci atravessa um momento crucial :a busca de protagonismo local. Com o olhar fixo em 2026, ele articula uma possível candidatura ao Palácio do Buriti — e para isso precisa de palco, visibilidade e, sobretudo, uma narrativa.
Narrativa essa que também passa por um reposicionamento político. O Izalci que agora se alinha a vozes da esquerda no DF, com quem compartilha a crítica ao BRB, parece distante daquele que trilhou seu caminho político na direita, no campo conservador, e que até pouco tempo se intitulava da base bolsonarista. A mudança um tanto quanto contraditória, é estratégica. E como toda estratégia, cobra um preço: a coerência. Ao tentar se equilibrar entre projetos distintos, o senador corre o risco de não ser reconhecido por nenhum deles.
No fim, a pergunta que ecoa é simples, mas primordial: estamos diante de uma iniciativa de fiscalização legítima ou apenas de mais um capítulo de uma pré-campanha disfarçada de preocupação institucional?
A política encenada pode até conquistar os holofotes no primeiro ato, mas o cansaço do público não tarda a se manifestar. E o eleitor brasiliense já aprendeu a diferenciar espetáculo de compromisso.
