O consumo rotineiro de bebidas energéticas por adolescentes e jovens adultos tem gerado crescente preocupação entre profissionais de saúde. A ingestão frequente e muitas vezes desinformada — desses produtos é apontada como fator de risco para uma série de problemas cardiovasculares e psiquiátricos. No Distrito Federal, o alerta partiu da cardiologista Rosana Costa Oliveira, referência técnica distrital em Cardiologia da Secretaria de Saúde (SES-DF), que classifica a situação como preocupante.
“Essas bebidas são usadas para aumentar a energia no dia a dia, inclusive no trabalho, mas o consumo em excesso tem efeitos graves. Há aumento de casos de ansiedade, depressão, arritmias como fibrilação atrial, insônia e até tremores”, afirma Oliveira.
Estudos recentes publicados no Journal of Addiction Medicine, periódico da Sociedade Americana de Medicina da Dependência, indicam que um terço dos adolescentes nos Estados Unidos consome regularmente energéticos com altas concentrações de cafeína. Além dos impactos diretos, os dados revelam correlação entre o consumo dessas bebidas e o uso de álcool, maconha e tabaco — muitas vezes, com o energético funcionando como um mascarador dos efeitos do álcool em festas e eventos sociais.
Estilo de vida acelerado favorece o uso
Para Oliveira, o apelo ao desempenho e a rotina acelerada têm transformado o energético em substituto recorrente do sono e da alimentação adequada. “Há jovens que começam o dia com uma lata, como se fosse refrigerante. Tomam com o almoço, com o jantar, e não percebem que estão ingerindo doses muito acima do recomendado.”
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o limite seguro de ingestão de cafeína para adultos é de 400 mg por dia — o equivalente a quatro xícaras de café coado. Para adolescentes, o teto é ainda mais baixo: até 100 mg, o que já é ultrapassado por uma única lata de energético tradicional, com cerca de 160 mg de cafeína.
“O problema não é apenas o produto, mas o contexto. Os jovens dormem mal, passam horas nas redes sociais ou jogando. Quando o organismo pede descanso, eles reagem com uma dose extra de estimulante”, explica a médica.
Do euforia ao esgotamento
Embora os efeitos iniciais do energético — estado de alerta, sensação de disposição e bom humor — sejam desejáveis, a sequência é bem menos animadora. “Logo depois, o corpo responde com irritação, taquicardia, insônia e, por fim, uma exaustão profunda. O cérebro entra em sobrecarga”, afirma Oliveira.
Além das alterações cardíacas e neurológicas, a especialista observa que o consumo contínuo pode aumentar a tolerância do organismo à cafeína, levando à necessidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito — um padrão semelhante ao observado em substâncias psicoativas.
Rotulagem e regulação
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), os energéticos vendidos no país seguem a regulamentação da Anvisa. Os rótulos são obrigados a conter advertências específicas para grupos vulneráveis — como gestantes, crianças e pessoas com hipertensão — e proibição do consumo associado a bebidas alcoólicas.
A prática, no entanto, continua comum em festas e eventos. “Ainda há muita desinformação. Muitos acham que misturar energético com álcool ajuda a manter o controle, quando, na verdade, o risco de intoxicação e comportamento de risco aumenta”, alerta a cardiologista.
A SES-DF recomenda atenção a sintomas como palpitações, ansiedade, insônia ou tremores após o consumo dessas bebidas. Ao menor sinal de mal-estar, o ideal é suspender o uso e procurar avaliação médica.
“É preciso tratar os energéticos com a seriedade que eles exigem. Não são refrigerantes, não são inofensivos. Especialmente para os jovens, o alerta é claro: o coração e o cérebro sentem e podem não avisar a tempo”, finaliza Oliveira.
*Com informações da SES-DF