Na canção do imortal de Noel Rosa, a pergunta era singela: “Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?” Na esfera , política, a indagação ganha contornos mais sutis e, às vezes, melindrosos: com que justificativa se veste uma festa de aniversário para camuflar uma campanha eleitoral antecipada?
Nesta terça-feira, o presidente da ABDI decidiu transformar sua comemoração em um verdadeiro comício disfarçado no Clube do Choro de Brasília. O evento 0800 reuniu 1.500 pessoas, todas agraciados com apresentações musicais e uma atmosfera que mais lembrava um grande ato político do que uma modesta celebração de aniversário.
A cereja do bolo? A divulgação escancarada nas redes sociais, com vídeos que deixam pouca margem para dúvida: era um sambão com batida eleitoral.
O enredo da campanha disfarçada
A propaganda eleitoral consiste em ações que buscam influenciar o eleitorado e consolidar candidaturas, seja por meio direto ou disfarçado. Cappelli, experiente articulador político, parece ter ignorado esse detalhe ao promover um evento cujo custo real ainda é uma incógnita. Afinal, quanto foi gasto? Quem bancou essa festa? E mais importante: estamos diante de um clássico caso de abuso de poder econômico?
O Tribunal Superior Eleitoral é claro: o uso de eventos festivos com distribuição de brindes, benefícios e festas gratuitas pode ser caracterizado como crime eleitoral. E Cappelli, que já demonstrou habilidade em se movimentar nos bastidores do poder, conhece bem essas regras. Afinal, não é um neofito na política.
O perfil do sambista da vez
Ricardo Cappelli construiu sua trajetória no meio institucional, sendo figura de confiança de Flávio Dino e ocupando postos estratégicos no governo federal. Com trânsito entre setores da segurança pública e da comunicação, ele se apresenta como um hábil operador político. Sua tentativa de viabilizar uma candidatura, não surpreende. Mas a forma como escolheu iniciar essa caminhada pode se tornar um samba atravessado.
O batuque da Justiça Eleitoral
Cappelli pode argumentar que tudo não passou de um encontro entre amigos, uma celebração pessoal sem qualquer viés eleitoral. No entanto, a presença massiva de convidados, a estrutura digna de um grande evento e a forma como tudo foi promovido nas redes sociais indicam o contrário.
No compasso das regras eleitorais, o ritmo desafinado pode acabar lhe custando caro.
Se há um traço comum entre o samba e a política, é que ambos exigem talento para se manter no jogo. Mas uma coisa é certa: se a Justiça Eleitoral resolver investigar, talvez Cappelli tenha que responder com outra música de Noel Rosa: “Palpite infeliz”.