A Rodoviária do Plano Piloto, coração pulsante da mobilidade no Distrito Federal, entrou neste domingo, 1º de junho, em uma nova fase de sua história. Pela primeira vez desde a sua inauguração, há quase 65 anos, o terminal deixa de ser administrado diretamente pelo poder público e passa oficialmente às mãos da iniciativa privada.
O Consórcio Catedral, vencedor da concorrência nacional promovida pelo GDF, assume a responsabilidade pela gestão do espaço por um período de 20 anos, com a missão ambiciosa — e necessária — de investir R$ 120 milhões na revitalização, modernização e conservação de um dos pontos mais emblemáticos de Brasília.
Muito mais do que um centro de conexões urbanas, a Rodoviária é um símbolo da capital federal. Diariamente, cerca de 700 mil pessoas circulam por ali, em deslocamentos que contam histórias de trabalho, estudo, esforço e resistência. E se por anos o terminal foi sinônimo de abandono, filas, escadas rolantes quebradas e insegurança, a chegada da nova gestão traz consigo a expectativa de uma virada de página.
Embora o contrato tenha iniciado oficialmente agora, a atuação do Consórcio Catedral já podia ser percebida nos últimos três meses, período em que a empresa operou em regime de gestão compartilhada com o Governo do Distrito Federal. Nesse curto intervalo, melhorias importantes foram colocadas em prática — algumas delas simbólicas, outras estruturais, mas todas com um objetivo em comum: tornar o ambiente mais digno para quem o utiliza todos os dias.
Entre as iniciativas que chamam atenção está a criação de uma sala multissensorial, voltada para o acolhimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras neurodivergências. O espaço, inspirado em modelo semelhante do Aeroporto de Congonhas, oferece iluminação, mobiliário e ambientação adequados para reduzir o estresse em um ambiente naturalmente caótico e barulhento. É um gesto pequeno no tamanho, mas enorme no alcance, especialmente para famílias que enfrentam, cotidianamente, a invisibilidade.
Na área da segurança, foi implantada uma nova sala de controle operacional, com videomonitoramento em tempo real e integração direta com a Secretaria de Segurança Pública do DF. O sistema conta inclusive com reconhecimento facial, o que pode contribuir para localizar foragidos da Justiça e aumentar a sensação de segurança no terminal — uma das maiores queixas dos usuários ao longo dos anos.
Escadas rolantes e elevadores, por sua vez, estão passando por manutenção intensiva para garantir acessibilidade mínima a idosos, pessoas com deficiência e mães com crianças pequenas — usuários frequentes, mas muitas vezes negligenciados pelo modelo de gestão anterior.
De acordo com o cronograma oficial, os investimentos serão feitos de forma escalonada ao longo de seis anos. Nos dois primeiros, serão aplicados R$ 7 milhões na estrutura de estacionamentos e sistema operacional da rodoviária. A grande reforma, porém, deve ganhar corpo mesmo a partir do segundo ano, com a aplicação de mais de R$ 57 milhões na requalificação do prédio e, em seguida, outros R$ 54,9 milhões na modernização geral do complexo.
O contrato inclui também a administração dos estacionamentos superiores e inferiores localizados ao redor da rodoviária — áreas que somam quase 3 mil vagas e passarão a operar de forma rotativa, com cobrança de tarifa. A exploração comercial dessas áreas, somada aos aluguéis, publicidade e outros serviços, será a principal fonte de receita da concessionária, que ainda pagará ao GDF 12,33% de sua receita bruta anual como contrapartida.