A participação dos idosos no mercado de trabalho do Distrito Federal: um reflexo de mudanças demográficas e sociais

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O Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas (Dieese), trouxe à tona um retrato profundo da população idosa do Distrito Federal no *Boletim Anual da População Idosa*. A pesquisa, baseada na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), revela tendências que refletem uma transição demográfica significativa: o envelhecimento da população e o impacto disso na força de trabalho local.

Entre 2022 e 2023, o número de pessoas com 60 anos ou mais representou 19,7% da População em Idade Ativa (PIA) do DF, um contingente de 501 mil pessoas. Dessas, apenas 19,1% participaram efetivamente do mercado de trabalho. O dado, embora baixo, sinaliza um aumento gradual da presença de idosos na força de trabalho, algo que não era tão comum em décadas passadas. Esse movimento ocorre em meio a uma retração da participação dos jovens, de 15 a 29 anos, no mercado, que viu uma redução de 0,9 ponto percentual no mesmo período. Já a participação dos idosos na População Economicamente Ativa (PEA) atingiu 5,8%, um crescimento tímido, mas constante.

Essa nova realidade se justifica por uma combinação de fatores. Muitos idosos estão optando por continuar ativos profissionalmente, seja por necessidade financeira ou por desejo de manter-se produtivos e integrados à sociedade. O perfil da população idosa no mercado de trabalho é diverso, com uma predominância de autônomos (30%), o que indica uma busca por maior flexibilidade e controle sobre as condições de trabalho. No entanto, a maioria ainda enfrenta desafios para se reintegrar ao mercado formal, já que apenas 20,1% possuem contratos com carteira assinada.

Entre os idosos que permanecem fora do mercado de trabalho, a maior parte (70,7%) é composta por aposentados, que muitas vezes dedicam-se exclusivamente a afazeres domésticos ou outras atividades não laborais. Entretanto, há um dado relevante: 85,3% dessas pessoas já tiveram experiência anterior de trabalho, e muitos estão fora do mercado há mais de cinco anos, o que pode indicar barreiras à reentrada na força de trabalho, seja por questões de saúde, discriminação etária ou falta de oportunidades adaptadas.

Os homens ainda são a maioria entre os idosos ativos (57,6%), enquanto as mulheres são maioria entre os inativos, refletindo, em parte, as desigualdades de gênero que perpassam as diferentes faixas etárias. No entanto, a educação aparece como um fator crucial para determinar quem ainda está no mercado. Entre os idosos que permanecem ativos, 32,7% possuem ensino superior completo, uma taxa consideravelmente superior à dos inativos.

Outro ponto relevante levantado pelo boletim é o rendimento dos idosos que permanecem no mercado. Com um aumento de 2,5% no período analisado, o rendimento médio chegou a R$ 5.507, superior ao dos jovens e dos adultos de 30 a 59 anos. Esse dado desafia o estereótipo de que o idoso seria um trabalhador menos qualificado ou menos produtivo. A experiência acumulada ao longo da vida, somada a uma educação mais elevada em muitos casos, faz com que esses profissionais ocupem posições de maior remuneração, especialmente no setor de serviços, que absorve 84,3% da mão de obra idosa.

Apesar do crescimento, a jornada de trabalho média dos idosos (39 horas semanais) é menor do que a dos jovens e adultos, refletindo uma adaptação às necessidades dessa faixa etária, que pode preferir jornadas mais curtas ou flexíveis. Isso aponta para a necessidade de políticas públicas e empresariais que valorizem o trabalho desses indivíduos, ao mesmo tempo em que atendem às suas demandas específicas.

O que se destaca, ao final, é a clara indicação de que o envelhecimento da população no DF não se traduz em inatividade completa. A cada ano, mais idosos optam por permanecer no mercado, não apenas como uma forma de complementar a renda, mas como uma maneira de se manterem ativos, produtivos e socialmente conectados.

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