Quem passar pela Esplanada dos Ministérios durante as comemorações do aniversário de Brasília vai encontrar muito mais do que música e festa. Vai encontrar memória. Vai encontrar história. E, talvez, reencontre até o próprio sentimento de pertencimento à capital.
Duas exposições fotográficas organizadas pelo Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) estão em cartaz entre os dias 19 e 21 de abril, no gramado central da Esplanada, bem próximo à Catedral Metropolitana. Gratuitas e ao ar livre, as mostras “Alma e Concreto” e “A Cidade que Inventei” convidam o público a mergulhar no nascimento de Brasília — não o das páginas oficiais, mas aquele que pulsa nas mãos calejadas dos candangos e nos traços ousados de um visionário chamado Lúcio Costa.
Candangos em foco: a força que ergueu a utopia
Na exposição Alma e Concreto, o que salta aos olhos não são apenas os canteiros de obras ou os esboços de prédios monumentais. São os rostos. Os olhos dos operários. As roupas simples. A poeira grudada na pele. São imagens que nos fazem lembrar que Brasília não surgiu do nada, tampouco por mágica. Ela foi erguida por homens e mulheres vindos de todos os cantos do país, que deixaram suas cidades, famílias e histórias para construir algo que ainda nem sabiam ao certo o que seria.
Esses registros nos obrigam a parar. A olhar para trás com respeito. A reconhecer que a cidade planejada nasceu, antes de tudo, do suor e da esperança de milhares de brasileiros anônimos.
Lúcio Costa: o homem que desenhou um sonho
Ao lado da exposição dos candangos, uma outra instalação chama atenção não apenas pelo valor histórico, mas pelo simbolismo. “A Cidade que Inventei” traz, pela primeira vez em solo brasiliense, os rascunhos originais do projeto do Plano Piloto, feitos por Lúcio Costa.
Esses documentos, até pouco tempo atrás guardados exclusivamente pela Casa da Arquitectura de Portugal, foram compartilhados digitalmente com o Arquivo Público após um acordo firmado em fevereiro deste ano. Agora, impressos em grande escala, estão expostos ao lado de fotografias que mostram como os traços de Costa ganharam vida no concreto armado da nova capital.
O nome da mostra é uma homenagem direta a uma publicação em que o próprio urbanista narra, em primeira pessoa, o processo de imaginar e desenhar Brasília. Ver os rascunhos ali, tão próximos do público, é quase como espiar os bastidores de uma obra-prima. Uma oportunidade rara e poderosa de entender como nascem as cidades — e os sonhos.
Uma cidade inventada e vivida
As duas exposições, montadas lado a lado, formam uma linha do tempo visual que une dois pontos fundamentais da identidade brasiliense: a ideia e a execução, o lápis e a enxada, o papel e o concreto. Mas, acima de tudo, elas revelam a alma coletiva de Brasília, feita de contrastes, encontros e resistência.
Aberta a todos, sem necessidade de ingresso, a iniciativa reforça o papel do espaço público como território de memória e de acesso democrático à cultura. E, talvez, seja exatamente isso o que Brasília esteja precisando: lembrar-se de onde veio, quem a construiu, e o quanto ainda pode — e deve — ser de todos.
Exposições “Alma e Concreto” e “A Cidade que Inventei”
– Esplanada dos Ministérios (altura da Catedral)
– De 19 a 21 de abril
-A partir das 14h
– Entrada gratuita